Aluno de Engenharia Mecânica desenvolve dedo protético mioelétrico de baixo custo e transforma TCC em projeto de impacto social
O estudante Johnny Cassius, do curso de Engenharia Mecânica do Centro Universitário do Sul de Minas, concluiu seu Trabalho de Conclusão de Curso com um projeto que une acessibilidade, tecnologia e engenharia aplicada: o desenvolvimento e validação, em bancada, de um protótipo de dedo protético mioelétrico de baixo custo produzido por manufatura aditiva. Desde o início, Johnny tinha clareza sobre seu propósito. Como explica, seu objetivo foi desenvolver um protótipo impresso em 3D em PLA reforçado, buscando equilibrar desempenho técnico e acessibilidade. “Eu queria provar que era possível criar algo tecnicamente funcional sem depender de tecnologias caras ou inacessíveis. Meu foco sempre foi mostrar que dá para fazer mais com menos”, afirma o estudante.
O trabalho começou com um estudo aprofundado sobre impressão 3D, controle por EMG e propriedades do PLA reforçado. Nos testes práticos, Johnny se dedicou a otimizar variáveis como ventilação, infill, nervuras, temperatura e montagem, buscando um conjunto mecânico simples, repetível e fácil de reproduzir em outros laboratórios. Na etapa de controle, conectou o sensor de EMG ao Arduino para converter sinais musculares em comandos de abertura e fechamento do dedo, enfrentando ruídos, variações de baseline e instabilidades do servo. Para lidar com isso, estruturou o desenvolvimento em etapas evolutivas, passando de um limiar simples para calibração guiada e, posteriormente, para uma máquina de estados com histerese e temporizações.
Para manter o rigor técnico, aplicou ferramentas clássicas da engenharia da qualidade, como o Diagrama de Ishikawa e a Matriz GUT, priorizando causas relacionadas ao ruído, aterramento e cabeamento. A cada ajuste, realizava testes comparativos com telemetria, garantindo base objetiva para as decisões.
O protótipo obtido não tem finalidade clínica imediata, mas funciona como um ambiente de ensaio estruturado que demonstra a
viabilidade do conceito e aponta com clareza os pontos que ainda precisam de evolução. Para Johnny, o valor social do projeto é igualmente relevante, já que mostra caminhos para próteses mais acessíveis, desenvolvidas com recursos simples e com documentação que permite que outros estudantes ou grupos de pesquisa possam adaptar e ampliar a solução. Sua motivação maior é contribuir para que, no futuro, pessoas amputadas possam recuperar gestos básicos com mais autonomia, sem depender de próteses de alto custo. “Se um dia alguém conseguir usar algo que começou aqui para melhorar a própria vida, tudo já terá valido a pena”, completa.
O processo também marcou profundamente sua formação como engenheiro, tirando-o da teoria e desafiando-o a tomar decisões, reconhecer limites e construir algo que pudesse ser compreendido e aprimorado por outras pessoas.
Para o professor Jonathan Nery, orientador do TCC, este foi um dos projetos mais gratificantes de acompanhar, tanto pelo resultado quanto pelo propósito humano por trás da proposta. Segundo ele, o mérito técnico foi todo de Johnny, e o maior destaque está justamente na coragem de iniciar algo tão desafiador e relevante, ainda que não esteja pronto. Para o professor, o projeto representa um primeiro passo importante rumo a soluções acessíveis e de impacto real.
