O curso de graduação em jornalismo oferece aos futuros profissionais um leque muito diverso de oportunidades e áreas de atuação. O aluno formado se capacita a trabalhar em emissoras de televisão, jornais impressos, rádios, agências de comunicação, e instituições em geral, em áreas de redação, gravação, edição, assessoria, fotografia, e muitas outras.
O jornalismo se configura em várias modalidades, dando a oportunidade de o profissional se capacitar para uma editoria ou prática específica do jornalismo, passando por áreas como moda, esporte, política, cultura, entretenimento, ciência, entre outras.
No texto de hoje falaremos sobre uma dessas modalidades do jornalismo que tem se tornado cada vez mais conhecida e prestigiada na opinião pública: o jornalismo de dados.
O jornalismo de dados é um método de produção de notícias que utiliza informações e elementos de valor numérico, com o objetivo de desenhar relações entre os fatos, permitindo que o público chegue a conclusões precisas e relevantes sobre temas de interesse geral.
Essa modalidade do jornalismo rompe com a rotina tradicional da profissão, reconhecida por trabalho de campo nas ruas, elaboração de pautas, entrevistas, etc. No jornalismo de dados os editores e repórteres exploram minuciosamente acervos de dados, buscando identificar conexões entre fatos que possam ser exploradas com mais profundidade. Ou seja, a análise de dados é o que dá início ao processo de produção de uma notícia.
O termo em inglês “Data-driven Journalism” começou a ser utilizado em 2009 para designar as iniciativas de produção de notícias a partir de dados estruturados nos Estados Unidos. O conceito surgiu da necessidade de dar forma ao novo modelo jornalístico, facilitando a compreensão por parte da opinião pública.
O jornalismo sempre teve como pilar principal a veracidade das informações transmitidas. O primeiro exemplo que se tem notícia do cruzamento de dados no jornalismo vem do The New York´s Tribune que, em 1849, publicou um gráfico completo sobre a epidemia de cólera que atingiu a cidade naquele ano. A matéria do jornal alertou a população para a sua capacidade letal e a necessidade de mobilizar esforços para prevenir um número massivo de mortes.
Outro exemplo do uso de dados no jornalismo veio com o The Philadelphia Inquirer, ganhador de 17 prêmios Pulitzer entre 1975 e 1990. No ano de sua primeira premiação, foi contratado um repórter dedicado a analisar exaustivamente os números do censo da cidade, gerando matérias a partir deles.
O surgimento da Internet foi o maior propulsor do jornalismo de dados no mundo, permitindo a formação de imensas bases de informação com fácil acesso e interpretação. Essa revolução foi acompanhada do surgimento de ferramentas digitais que hoje automatizaram a estruturação de dados.
CREDIBILIDADE
Constantemente a credibilidade jornalística dos meios de comunicação tradicionais tem sido colocada em dúvida pela opinião pública, principalmente com o fenômeno das fake news. Sendo assim, a informação de qualidade coletada através de fontes confiáveis e que não sejam influenciadas por interesses comerciais ou ideológicos, tem sido primordial para os veículos de comunicação. E quem melhor que os números para garantir uma origem verídica dos fatos?
O jornalismo de dados apresenta com facilidade informações numéricas relacionadas aos fatos, permitindo que a avaliação do leitor seja embasada em estatísticas e não em suposições.
QUALIDADE
A análise de dados permite conectar informação sobre situações complexas, favorecendo que os conteúdos sejam mais completos e de fácil compreensão para o leitor. Além disso, a apresentação dinâmica dos dados, através de formatos variados, permite que o leitor tenha uma experiência mais completa e interativa com os dados coletados, podendo ele mesmo navegar por gráficos à sua preferência.
Os principais recursos de visualização de dados usados atualmente nos sites de notícia são:
O jornalismo de dados demanda do profissional uma boa capacidade de analisar informações na busca por produzir notícias orientadas aos dados. No entanto, o sucesso dessa modalidade do jornalismo está muito alinhado ao uso de ferramentas e recursos digitais que as empresas de comunicação têm utilizado em suas produções.
Alguns exemplos dessas ferramentas são:
BIG DATA
Permitem estruturar o volume de grandes bases de dados, utilizando filtros e parâmetros comuns que separem a informação gerada de acordo com o interesse do jornalista e a categoria temática que vai explorar em uma matéria.
ANÁLISE SEMÂNTICA
As ferramentas de análise semântica fazem uma compilação de palavras-chave espalhadas pela Internet, tanto as que representam a pesquisa por informação em motores de busca como as que expressam comentários em redes sociais ou fóruns. Os jornalistas podem decifrar a intenção do usuário e os temas de maior interesse entre fragmentos da audiência, combinando palavras-chave para gerar ideias de conteúdo.
GITHUB
A plataforma é utilizada por programadores e desenvolvedores para a divulgação de experiências e novas criações, gerando uma rede de softwares de código aberto que as empresas de comunicação podem utilizar para criar seus próprios aplicativos de notícias, otimizados para a experiência do usuário e a visualização responsiva de dados.
BASES DE DADOS PÚBLICAS
Os acervos de dados oficiais e de pesquisas como o censo demográfico são muito grandes e interpretá-los manualmente não é a atividade mais convidativa para um jornalista. Para que toda essa informação não fique perdida e seja desaproveitada, as ferramentas de engenharia de dados têm sido aplicadas por repórteres e produtores para filtrar e organizar com mais eficiência o volume de números e estatísticas produzido pelos órgãos públicos.
PRODUTOS DO GOOGLE PARA A ESTRUTURAÇÃO DE DADOS
Vários produtos e serviços do Google são utilizados para sistematizar números e informações que servirão de base para reportagens e matérias produzidas, como por exemplo o Google Sheets e o Explorador de Informação Pública.
O jornalismo de dados é uma metodologia de produção de notícias que transforma a percepção da sociedade sobre o valor da informação. O consumo tradicional de notícias em telejornais, jornais impressos e programas de rádio tem perdido força pelo formato engessado dos conteúdos publicados.
Blogs que priorizam a entrega de informação relevante em formatos diversificados e em páginas otimizadas às melhores práticas de experiência do usuário, têm recebido grande destaque e credibilidade no campo jornalístico.
O jornalismo está despertando para a transformação digital, proporcionando as condições estéticas e técnicas necessárias para que as pessoas se interessem pelo que está sendo transmitido. Assim, o jornalismo de dados coloca o usuário em primeiro lugar e é honesto com a entrega das informações.
Encontrar dados, interrogar dados, visualizar dados e mesclar informações: esse é o cotidiano do profissional que trabalha com jornalismo de dados.
O Brasil é o 9º país no ranking mundial de dados abertos, e movimentos como o Índice de Dados Abertos e Portal Brasileiro de Dados Abertos tornam cada vez mais fácil acessar dados liberados por órgãos reguladores, grupos de consumidores, ONGs, instituições científicas e empresas. Você também pode monitorar respostas da Lei de Acesso a Informação (LAI) e relatórios emitidos por organizações privadas.
Através de novas práticas e ferramentas, o jornalismo de dados tem sido responsável por trazer ao público informações de maior qualidade e credibilidade, substituindo rumores, opiniões e suposições, por números, valores e fatos.
Se você se interessou por essa modalidade do jornalismo é possível conhecer mais a área através de cursos de graduação e especialização em jornalismo de dados.
Esperamos que o conteúdo do texto de hoje tenha sido informativo e inspirador. Até a próxima!